domingo, 13 de dezembro de 2015

Perdida na dor e na aguardente

E aqui estou eu, com os olhos inchados, sem poder olhar para a luz, fixando as marcas e os traços traçados por uma lâmina velha no meu pulso direito, como se fosse arte e como se esta precisasse de ser notada, admirada, e deitada na minha cama sem saber como cá vim parar, com as olheiras  negras do eyeliner borrado e da ressaca que me consome e enfraquece. Uma dor que rói as últimas forças, uma desilusão e vergonha perante aqueles que me viram num estado de decepção autêntica e uma camisa preta vomitada é tudo o que tenho agora.
Para que foi isso? Para que foi esta merda? O que se passa comigo? Quem sou eu? Já não me identifico com aquela que eu era, que eu me sentia... Julgava-me uma rapariga em quem me podia orgulhar, com razões de louvar, inteligente e de respeito. E agora? O que aconteceu? Porque é que tudo mudou na minha vida, até mesmo eu própria?
Cada vez que dou um passo neste caminho da vida sinto que me humilho, que me arrasto para um futuro sem sentido, sem direcção, turvo e perdido.



Estávamos num jantar da minha família nova e eu estava a tentar habituar-me a ela. Eram caras novas, pessoas novas, sorrisos novos, vidas que se tinham cruzado por ali, destinadas a se conhecerem e a partilharem novos momentos.
Mas eu estava com a cabeça no passado, numa confusão que me afundava, nos problemas que me destroçam. Eu sentia que não pertencia àquele cantinho, à vida daquela gente. Sentia que não merecia partilhar novos momentos com mais ninguém, não merecia uma nova vida. Sentia que o vento iria tirar-ma como de costume ele o faz e que isso iria profundar-me numa depressão. Sentia que me mantinha numa mentira. E isso era algo que me perturbava.
Fui fumar umas quantas vezes, esconder-me na escuridão da noite, ser abraçada pelo frio gelado lá fora, pensar (ou tentar) em nada. Não tinha comido nem feito uma única refeição que seja o dia todo, e como tal sentia-me fraca e enjoada. Não conseguia rir com as palhaçadas daqueles que lá estavam e que me tentavam animar.
E eu, egoísta, como o ser humano o é, e ingrata, não quis saber. Os meus olhos apaixonaram-se por uma garrafa de aguardente da garrafeira da sala, e a tristeza que eu sentia pedia pela garrafa de licor de amora.
O que antes eram duas garrafas cheias, no fim eram duas garrafas vazias, e uma criança divertida com a sua bebedeira, que era eu, tonta, que não se conseguia manter de pé sequer, e com uma visão turva, dançante e confusa.
Aqueles que me eram importantes repararam, perceberam que eu não estava bem. E eu que, normalmente, aguento bem o álcool, que tenho um estômago forte, e que me sei controlar quando é preciso, não conseguia nada disso. Não estava mesmo nada em mim, não percebia que me tinha metido numa alhada das grandes. Eu não me sentia, eu não sabia que eu era eu mesma. Estava com a cabeça à roda, com enormes tonturas, e lembro-me de chorar imenso, gritar, tentar segurar-me e não cair, e de pedir pela morte.
Desde o instante que aconteceu o primeiro vómito, não me recordo literalmente de mais nada. Quatro horas dessa noite foram completamente apagadas da minha memória. Não sei o que fiz, não sei o que me fizeram, não sei o que disse nem o que me disseram. E isso é algo realmente assustador, e que não havia necessidades para se dar tal acontecimento. É um pavor. É, e agora sim, uma desgraça verdadeira de grandes tamanhos.  Agora sim, caí numa gigante desgraça.
Já me tinham acontecido semelhantes noites, mas não tão graves como esta. Podia ter entrado em coma alcoólico, podia ter ido parar ao hospital. E tudo por causa de um desgosto horrendo que sinto, que considero ser ele a minha vida.
Sim, a minha vida é desgostosa, e o licor era doce. Só queria dar um toque de sabor a ela, mas não sabia que o licor era também ele um complexo de problemas sobrepostos. Esqueci-me que poderia até ser um veneno para minha vida. E, como sempre, lixei-me.
Agora sim podem chamar-me de idiota. Podem dar-me os sermões que quiserem. Estejam à vontade. porque de qualquer maneira eles não me vão resolver o sofrimento que eu sentia e ainda sinto.

Biaa

5 comentários:

  1. Força muita força querida, não te vou julgar nem criticar, quando estamos mal fazemos coisas para tentar esquecer e foi isso que te aconteceu a ti, apenas te peço para pensares se vale a pena meteres a tua vida em risco.
    Com a saúde não se brinca é a coisa mais preciosa que temos na vida, pensa nisso.
    Pensa nas pessoas que gostam de ti, mas pensa no quanto tu gosta de ti própria.
    Será que vale a pena pores em risco a tua vida por alguma razão deste mundo? Claro que não! Não voltes a fazer o que fizeste.
    Força, Força, Força! Se quiseres falar comigo : luaaa07@gmail.com manda-me email estás à vontade. Beijinhos querida :)

    ResponderEliminar
  2. Seja lá o que for, não é mais importante do que a tua saúde, o teu bem estar. Não há nada mais importante na vida do que ter saúde e, estas opções só te vão prejudicar. Tens noção disso, eu sei que sim. Mas não podes deixar que isto aconteça mais vezes, tens de lutar por ti. Se não tiveres bem contigo como é que vais conseguir resolver o que está à tua volta? Quando te sentires à beira do precipício procura algo que te anime, conversa com alguém, desabafa no blog. Faz alguma coisa mas não isto. Se precisares de desabafar podes contar comigo, força!

    ResponderEliminar
  3. Biaa... Eu não te vou julgar, sei que estás a passar por uma fase difícil e compreendo que te sintas a ficar sem chão e te vês obrigada a seguir o caminho mais fácil, refugiando-te no que não devias... Mas, caramba! Eu disse que estava aqui para tudo aquilo de que precissasses. Que estava disposta a "ouvir-te", que só não queria que fizesses parvoíces. De que vale apanhares uma bebedeira enorme, afinal? De que vale feris-te com essa lâmina velha, afinal? Só estás a afundar-te mais Biaa. Tens de te levantar, reagir, lutar! Faz isso por ti! És uma rapariga espetacular, tens uma vida pela frente, não desistas!
    Quero mais uma vez referir, estou aqui para o que precisares, qualquer coisa manda um mail: melliablogger@gmail.com

    ResponderEliminar
  4. Olá meninas, à tempos nomeai-vos para uma tag: http://orefugiodasimplegirl.blogspot.pt/2015/12/tag-liebster-award-descobrindo-novos.html :)

    ResponderEliminar